SINOPSE: Se eu fosse calvinista, eu não só iria
querer ler este livro — iria querer lê-lo com meus amigos calvinistas. Ele é
bom demais para se ler sozinho — eu iria querer analisar criticamente o livro,
refletindo cada ponto que o Austin Fischer faz. Afinal de contas, ele foi um
dos calvinistas ressurgentes. Além disso, ele tem um arsenal de excelentes
frases.
Como chamamos esta nova onda de
calvinistas? Uma vez eu os chamei de “neo-rreformados”, mas algumas pessoas
(verdadeiramente) reformadas me informaram que esse renascimento do calvinismo
não era realmente reformado. “Como”, um deles perguntou, “alguém pode ser
reformado e não acreditar no batismo infantil e não fazer uso das clássicas
confissões reformadas?”. Então alguém os chamou de “neocalvinistas”, mas um
professor amigo meu, especialista nessa área, me disse que esse termo não
funciona, pois ele descrevia os neokuyperianos. Então outro estudioso apresentou
algumas razões sólidas quando disse que os calvinistas ressurgentes são, na
verdade, “neopuritanos”. Então um amigo meu me disse que isso era uma calúnia,
uma vez que, em sua concepção, “puritano” era um termo depreciativo. Mas
qualquer um que conhecer a história dos EUA — principalmente os fundadores da
Massachusetts Bay Company sob os auspícios de John Winthrop — se pergunta como
esse grupo ressurgente pode ser chamado de puritano. Eles não têm a força
necessária para fazer as coisas que os puritanos fizeram. O que eles fizeram?
Tentaram estabelecer uma nação cristã com cidades cristãs, ainda que
comprometidos com a aceitação daqueles que eram diferentes deles, algo que o
tempo provou ser mais do que um desafio para os puritanos primitivos.
Então, porque chamá-los de calvinistas
ressurgentes? Precisamos de um nome ou um rótulo? Sim — penso que sim — pois os
homens não podem deixar de categorizar, rotular e definir, e porque o bom
raciocínio exige discernimento e o discernimento exige nuança. É por isso que
precisamos ver o calvinismo ressurgente como uma espécie de neopuritanismo. A
maioria deles é batista ou de igrejas livres, embora alguns deles sejam líderes
mais famosos e vários de seus seguidores façam parte de grupos históricos
reformados.
Foi isso que atraiu Austin, e isso é o que
continuará a atrair evangélicos jovens e teologicamente famintos. Existem
outras opções, como a Missio Alliance ou denominações tradicionais, mas a rede
The Gospel Coalition e a conferência Together for the Gospel estabeleceram suas
vozes como o centro do neopuritanismo, ou, caso prefira, do calvinismo ressurgente.
O calvinismo, talvez precisamos nos
lembrar, não é novo. Nem seus problemas são descobertas recentes. Austin
Fischer tanto ouviu essas vozes recentes como também aprendeu a examiná-las
cuidadosamente… E percebeu que o conjunto de tais vozes deixa muito a desejar.
Uma das formas que ele expressou isso foi nestas palavras: “Mas acredito que é
melhor dizermos sim à glória de Deus dizendo não ao calvinismo”. As pessoas
envolvidas sabem que essas palavras afligem o cerne da visão teológica
neopuritana.
Eu passei pela experiência que o Austin
passou. Como universitário, eu me apaixonei pela arquitetura do calvinismo. Li
um sermão de Spurgeon por dia por meses a fio, li John Owen, tim-tim por
tim-tim, e John Brown sobre Hebreus, e bebi do vinho do calvinismo até que me
embriaguei no melhor sentido da palavra. Amava o calvinismo — amava suas
excelentes linhas de pensamento e penso que o que mais gostava é que o
calvinismo tanto me colocava no meu lugar, quanto colocava Deus no seu lugar e
eu adorava a idéia de que todas as coisas estavam onde deveriam estar. Até que
encontrei passagens na Bíblia que abalaram essa teologia até o âmago.
Estava fascinado por teólogos calvinistas,
mas percebi que a exegese não era cativante. Passagem após passagem me
convenceram de que, enquanto no contexto geral — a glória de Deus na face de
Cristo — era tão boa quanto nossa teologia pode ser, as nuanças mais tênues
simplesmente não funcionavam com as estruturas bíblicas da liberdade do amor de
Deus e a resposta humana. Por alguns anos eu vaguei entre o calvinismo e outras
opções, por fim acabei me estabelecendo com o que às vezes chamo de “anabatismo
com sensibilidades anglicanas”. Ainda leio Calvino, Piper e Edwards, mas com
uma hermenêutica de suspeita. Gosto da arquitetura do sistema calvinista, mesmo
que suas mobílias precisem ser jogadas na pilha do lixo. Gosto da idéia da
glória de Deus, mas o amor de Deus é o fim último — não a glória de Deus.
Ninguém, ele aprendeu, pode olhar para
Auschwitz de frente e não imaginar como tal ato colossal de maldade bárbara
pode se harmonizar com um Deus que determina todas as coisas. Ninguém, ele
também aprendeu, pode ver os prospectos do inferno no seu sentido tradicional e
não se questionar sobre a bondade de Deus — ou pelo menos perguntar: “Por quê”?
E por que Deus criaria tantas pessoas — os números são aterradores — sabendo
que a maioria delas (mais uma vez no sentido calvinista tradicional) estará no
inferno sofrendo eternamente? Em outras palavras, ele aprendeu que, para
sustentar seu calvinismo, precisava acreditar em coisas realmente terríveis.
Conforme Austin diz: “E foi isso o que aconteceu comigo no cerne do buraco
negro da deidade autoglorificadora: as luzes apagaram e eu fiquei sentado no
escuro em um universo absurdo com uma deidade enigmática de poder nu”.
Detalhes:
Título: JOVEM, INCANSÁVEL, NÃO MAIS REFORMADOAutor: Austin Fischer
Lançamento: Editora Sal e Cultura
Páginas: -
Sem comentários:
Enviar um comentário
Comentar